Resenha: A Irmandade Perdida - Anne Fortier.

28 outubro 2015

Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580414523
Autor: Anne Fortier
Titulo original: Lost sisterhood
Ano: 2015
Páginas: 528
Tradutor: Fernanda Abreu

Sinopse:
Diana Morgan é professora da renomada Universidade de Oxford. Especialista em mitologia grega, tem verdadeira obsessão pelo assunto desde a infância, quando sua excêntrica avó alegou ser uma amazona – e desapareceu sem deixar vestígios.
No mundo acadêmico, a fixação de Diana pelas amazonas é motivo de piada, porém ela acaba recebendo uma oferta irrecusável de uma misteriosa instituição. Financiada pela Fundação Skolsky, a pesquisadora viaja para o norte da África, onde conhece Nick Barrán, um homem enigmático que a guia até um templo recém-encontrado, encoberto há 3 mil anos pela areia do deserto.
Com a ajuda de um caderno deixado pela avó, Diana começa a decifrar as estranhas inscrições registradas no templo e logo encontra o nome de Mirina, a primeira rainha amazona. Na Idade do Bronze, ela atravessou o Mediterrâneo em uma tentativa heroica de libertar suas irmãs, sequestradas por piratas gregos.
Seguindo os rastros dessas guerreiras, Diana e Nick se lançam em uma jornada em busca da verdade por trás do mito – algo capaz de mudar suas vidas, mas também de despertar a ganância de colecionadores de arte dispostos a tudo para pôr as mãos no lendário Tesouro das Amazonas.
Entrelaçando passado e presente e percorrendo Inglaterra, Argélia, Grécia e as ruínas de Troia, A irmandade perdida é uma aventura apaixonante sobre duas mulheres separadas por milênios, mas com uma luta em comum: manter vivas as amazonas e preservar seu legado para a humanidade.
Resenha:
“Houve um tempo em que existiu, nas partes ocidentais da Líbia, nos confins do mundo habitado, uma raça governada por mulheres cujo modo de vida era diferente daquele que prevalece entre nós.” – Diodoro da Sicília, Biblioteca Histórica.

Eu sempre gostei de livros sobre mitologia, Rick Riordan e Colleen Houck que não deixam mentir, considerando a coleção imensa de livros deles que eu tenho. Seja mitologia egípcia, nórdica, grega... estou sempre disposta a me aventurar. Mas, uma coisa os livros que eu já li tem em comum: são destinados ao publico adolescente. Sempre é aquela aventura infanto juvenil, que apesar de fantástica e intensa, sempre tem esse lado adolescente. Quando me deparei com “A Irmandade Perdida” e li sua sinopse, minha curiosidade foi a mil, já que é um livro mitológico para adultos. Sim, para adultos, estamos lidando aqui com protagonistas com seus vinte e poucos anos, formados em suas respectivas áreas, donos de seu nariz e determinados. Mas, que mesmo assim conseguem se envolver nessa jornada fantástica.
Eu nem sei bem como falar sobre esse livro, ele é do tipo que falta palavras para descrever.
Principalmente pelo fato de que é um livro, mas duas historias paralelas acontecendo. Temos Diana Morgan, uma filóloga fascinada pela historia das Amazonas, e em paralelo temos a trama envolvendo Mirina, a primeira Amazona.

Ao iniciar a leitura somos apresentados a Diana Morgan um mulher de vinte e poucos anos, Filóloga e que leciona na universidade de Oxford. Quando criança, Diana conviveu alguns anos com a avó paterna em sua casa, uma senhora peculiar com problemas mentais que acreditava ter sido uma Amazona chamada Kara quando nova. A neta cresceu ouvindo as historia de como deveria aprender a lutar, ser forte e destemida e nunca se submeter aos homens. Os pais de Diana, é claro, submeteram a pobre senhora a todo tipo de tratamento conhecido para problemas mentais e colocavam a culpa de suas alucinações nos remédios fortes. Mas, certo dia ela simplesmente sumiu, não deixando rastro, apenas um caderno. Objeto que os pais nunca deixaram Diana colocar as mãos, ela  apenas o viu uma única vez, na mesa de seu pai, e constatou que o livro estava repleto de palavras sem coerência em uma língua inventada por uma senhora no auge de sua loucura.

Os anos se passaram e a paixão da avó se tornou a paixão da neta, que seguiu carreira na filologia, e sempre empenhada em fazer com que os outros acreditassem que a historia das Amazonas foi algo real, que marcou a historia. Mas sua obsessão pelo tema não é bem vista no meio acadêmico, chegando a ser alvo de piada dos colegas. Seus únicos amigos que toleram sua insistência em afirmar que as amazonas são uma lenda verdadeira é sua mentora Katherine Kent e James Moselane, outro professor e também vizinho de Diana durante a infância, por quem ela nutre até hoje sentimentos.

Certo dia, após sair de uma de suas aulas, Diana é abordada por um estranho na rua, que afirma fazer parte de uma instituição dedica a arqueologia que acaba de descobrir uma prova concreta de que as Amazonas realmente existiram, mas precisam de alguém capaz de decifrar um antigo texto gravado em uma parede em um templo recém descoberto. Ele entrega a ela uma foto que uma estranha escrita e uma passagem de avião.
É claro, que como uma entusiasta sobre o tema, ela fica completamente fascinada sobre o assunto, mas o que mais intriga Diana , é o fato de que na foto que ela recebeu de Sr. Ludwig, a estranha escrita que ela supostamente precisa decifrar, é exatamente igual a que ela viu no caderno de sua avó doente anos antes.

Em contra ponto, e intercalando capítulos com Diana, temos Mirina uma menina simples que vivia em uma aldeia no meio do nada por volta de 1190 A.C.  Abandonadas pelo pai, Mirina, sua irmã Lili e sua mãe Talla, viviam pacificamente. Até que certo dia, em circunstancia inusitadas a mãe das garotas é assassinada. Desesperadas, as duas partem e uma jornada para encontrar o tempo da deusa da Lua, situado na nossa atual Argélia. Durante o perigoso trajeto pelo deserto, Lili acaba contraindo uma doença e ficando cega. Depois de muito procurar, elas enfim chegam ao templo e são acolhidas pela irmandade, onde não se pode ter contato com homens e a virgindade é algo sagrado para elas. O símbolo que as identifica como sacerdotisas da deusa da lua é um bracelete em formato de chacal no pulso.

Durante algum tempo as duas meninas encontram abrigo no lugar, apesar de não ser o que elas esperavam e desejavam. Até que durante a noite o templo é invadido por Gregos,  homens cruéis que saqueiam e matam quase todas as garotas do local, e as que acham “úteis” são levadas como escravas. E é exatamente ai que a jornada de Mirina começa. Ela e mais algumas sacerdotisas que sobreviveram rumam para o mar em busca das amigas sequestradas. E é em meio dessa travessia que elas encontram Páris, o príncipe de Troia, um homem gentil e generoso.
“É tudo um tabuleiro de xadrez de noites e dias... onde o Destino brinca com os homens como se fossem peças. Para lá e para cá elas se movem, se reproduzem, se matam. E uma a uma são guardados de volta no armário.”
Serio, vocês não tem idéia do quanto esse livro é desenvolvido com maestria. Falando assim, parece duas historias distintas que não se encontram em momento algum, já que uma acontece nos dias atuais e a outro mais de 1000 anos antes de Cristo. Mas, Anne Fortier é um gênio, as historias estão totalmente entrelaçadas. Diana é uma filóloga viciada na historia das Amazonas, enquanto Mirina se juntas a uma irmandade só de mulheres.  Já deu para entender, né? Os capítulos são intercalados pelo fato de que Diana vai desvendas os passos de Mirina, milhares de anos atrás.
Diana faz descobertas e traduções de textos antigos que para ela é algo totalmente novo e desconhecido, mas o leitor tem a versão de Mirina, que mostra como tudo que Diana está tentando desvendar aconteceu realmente e tomou forma. É maravilhoso, genial e totalmente inovador. Eu nunca tinha lido algo tão complexo e apaixonante em toda a minha vida. A muito tempo, muito tempo mesmo (acredito eu que desde Harry Potter), que eu não me sentia tão ligada e envolvida por uma trama. Eu fui totalmente consumida por essas protagonistas tão distintas e peculiares, duas mulheres totalmente diferente uma da outra, mas que traçam o mesmo caminho em duas épocas.

Além dessa trama linda e bem "costurada", os personagens também são fantásticos e extremamente bem construídos, todos eles, sem exceções, em ambas as tramas.

E sim, eu citei um suposto romance lá em cima, e vai acontecer. Em ambas as historias existe o romance envolvido, e te garanto, ambos são lindos, sem triangulo amorosos ou indecisões, afinal a trama é focada no mistério e na mitologia em si, o romance é algo paralelo, uma consequência, que em nenhum momento é o foco central, mas de vital importância. Não vou me aprofundar sobre isso na resenha, pois é um assunto complexo e que mexeu com o meu psicológico durante a leitura, e que se eu começar a comentar sobre, vai rolar spoiler, com certeza.

O livro todo é repleto de suspense e intrigas, nas duas historias, chega em um ponto em que o leitor precisa para um instante para clarear as idéias, para tentar desvendar junto com as protagonistas a trama de intrigas em que elas se envolvem, sem saber distinguir em quem elas podem confiar realmente.

 Os capítulos, quase todos, são intercalados entre Mirina e Diana, o que é ainda mais instigante, pois você fica apreensiva com os próximos, ao mesmo tempo em que lê algo ainda mais fantástico. Mas, alem dos capítulos, o livro esta dividido em seções: Crepúsculo, Aurora, Sol, Zênite, Eclipse e Equinócio, que representam uma fase da vida das protagonistas.

Aqui vai mais uma vez: O livro é MARAVILHOSO.  Existe essa parte histórica, envolvendo Mirina, e uma versão para a suposta guerra entre os Gregos e Troianos. Existe o romance e também mitologia e arqueologia envolvida. E também existe uma moral em tudo isso, um ensinamento e principalmente uma lição, que é sobre a força das mulheres, representadas por Diana e Mirina, que cada uma ao seu modo, nos mostram que devemos lutar e nunca se contentar com menos ou deixar que nos subestimem. Além da idéia geral das Amazonas, que mulheres nunca devem depender de homens, podemos fazer o mesmo que eles em pé de igualdade.

Enfim, eu sei que estou me estendendo, mas minha vontade assim que terminei a leitura era começar tudo novamente, só pelo prazer de me envolver com aqueles personagens fascinantes mais uma vez.  Este livro também fez algo que a muito tempo não acontecia. Ele me fez sofrer por e com um personagem, não apenas me emocionar, e sim cair de cabeça naquele momento e emoções descritas, me envolvendo de verdade. Uma das mortes literárias mais doloridas dos últimos tempos, com toda certeza, se me permitem um pequeno spoiler.

Obviamente eu não preciso dizer para vocês que o livro se tornou um dos meus favoritos, aquele que fica na prateleira especial na estante onde eu sempre posso pegar e reler alguns trechos.

A edição física também é muito bonita, a capa apesar de simples, faz total sentido para quem está lendo, as divisões das seções também são maravilhosas, possui uma diagramação bonita e bem feita, sem erros de revisão aparente, paginas amareladas e fonte agradável.

E só para não esquecer: O LIVRO É MARAVILHOSO!!
“Vou lhe dar meu bracelete de chacal, mas não pense que quero que você se torne vire Amazona. Só quero que você tenha a possibilidade de escolher. Um numero demasiado grande de mulheres cresce sem ter escolha. Meu maior desejo para você é uma vida de liberdade. Lembre-se de manter vivas as suas escolhas, não as deixe enfraquecer. E não deixe que os outros a convençam de que não tem opção. Lembre-se: a coragem não tem idade.”
Sobre o autor:

 Anne Fortier nasceu e cresceu na Dinamarca, Graças a mãe, desde pequena é apaixonada por musica e idiomas. Começou a escrever seu primeiro romance aos 11 anos e, aos 13, apresentou um manuscrito a uma editora.
Seu primeiro livro, foi publicado em seu país em 2005. Depois disso, Anne decidiu escrever apenas em inglês e,em 2010, lançou "Julieta", que foi sucesso em mais de trinta países.
Anne também coproduziu o documentário "Fire and ice: The Winter War of Finland and Rússia, vencedor do Emmy. Ela tem doutorado pela universidade de Aarhus, da Dinamarca, e lecionou na Europa e na América do Norte. Atualmente mora no Canadá com a Família.
Os Direitos autorais de A irmandade Perdida já foram vendidos para nove países.

4 comentários:

  1. Olá, Geeh.
    Fiquei animado demais com a sua resenha. Também sou fã de mitologia e fiquei com uma vontade enorme de ler a obra, principalmente após ver que a estrutura é bem construída e o livro é bom.
    Contudo, se fosse só pela capa, não leria. Numa livraria, nem pegaria a obra para dar uma olhada. Achei bem fraquinha.

    Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de outubro. Serão seis livros para três vencedores.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Geeh. O livro me agradou por partes. Gostei bastante da presença, mesmo que pouca, da mitologia grega no enredo do livro, gostei das aventuras e dificuldades passadas por Diana e Nick. Mas, a escrita com um efeito sanfona, lenta e rápida, me desagradou. Fiquei indeciso sobre o livro.

    ResponderExcluir
  3. Olá!!
    `Pra começo de conversa achei a capa linda, amei mesmo!!
    Esse livro que me cativou inicialmente pela capa me deixou super curiosa e com uma enorme ansiedade em ler depois de sua resenha, eu também amo mitologia seja ela qual for, e esse livro realmente cativou tem drama, suspense, e tudo isso desencadeia uma bela lição, já quer ler.
    Bjocas

    ResponderExcluir
  4. É incrível como as histórias se completam para formar uma só trama. Pensei que devido ao reaparecimento no presente de nomes das antigas Amazonas, como Mirina, Cime, Kara, entre outros, elas teriam virado imortais, viajado no tempo ou reencarnado. Fiquei com essa expectativa por um tempo, talvez a autora teve essa intensão de explicar esse pequeno mistério somente no final e de maneira bem discreta haha
    Foi um dos maiores livros de que li e devo admitir que, embora tenham partes que me fizeram querer ler mais e mais, outras não fluíram tão naturalmente para mim. Talvez por se passar em tantos lugares e períodos diferentes, é normal descansar da jornada um pouco haha
    Recomendo a todos, é uma viagem extraordinária!

    ResponderExcluir