Resenha : A Dama de Papel - Catarina Muniz

21 janeiro 2016

Edição: 1
Editora: Universo dos Livros
Autor: Catarina Muniz
ISBN: 9788579309151
Ano: 2015
Páginas: 256
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Sinopse:
Localizado na zona periférica de Londres em meados do século XIX, o bordel de Molly está sempre repleto de fregueses: ricos e pobres, magnatas e operários. O que nenhum deles sabe - nem mesmo as outras trabalhadoras do estabelecimento - é que a dona do prostíbulo optara por ser "mulher da vida fácil" após fugir de um casamento forçado, abrigando-se nas entranhas de um cortiço na busca indelével por liberdade.
Certa vez, no entanto, Molly é inebriada pelas propostas de um cliente: Charles O'Connor, o herdeiro de um império têxtil, deseja que ela seja somente sua. Molly, arrebatada pelas sensações provocadas pelo novo amante, se vê obrigada a questionar o modo de vida que conduzira com orgulho até então, além de testar os limites da liberdade obtida a duras penas.
Entregues à avassaladora paixão e à incrível química sexual que os unem, Molly e Charles precisarão enfrentar as represálias que os unem, Molly e Charles precisarão enfrentar as represálias sociais e a moral conservadora da época para dar continuidade a este amor proibido. Mas terão de pagar um preço alto por suas decisões.



Resenha:
"Sou pouco, tenho menos ainda. Mas me pertenço."
Confesso: eu nem sabia quem era Catarina Muniz, muito menos tinha ouvido falar sobre “A Dama de Papel”, até que um belo dia o carteiro bateu aqui em casa e me entregou um pacote com o remetente da Editora Universo dos Livros. Eu logo de cara pensei : “Aleluia, ganhei uma cortesia do skoob”!! HAHAHA Mas eu estava enganada, pois a Universo nos presentou com um edição pré lançamento do livro!!! Vocês conseguem imaginar o quanto fiquei lisonjeada com isso, né, estava rindo sozinha! E o livro foi uma bela surpresa, afinal, como vocês bem sabem, eu amo romance de época, e quando bati os olhos neste, nacional ainda por cima, fiquei mega curiosa.

“A Dama de papel” se passa no seculo XIX, mais precisamente na periferia de Londres. E é por lá que encontramos Molly, uma prostituta renomada e requisitada pela maioria dos homens de classe alta.  Ela administra um bordel e abriga diversas mulheres cuja a vida não foi muito gentil. Cada uma das meninas de Molly tem um historia de vida, e quase todas trágicas. Mas o que poucos sabem, é que a própria Molly esconde um passado conturbado e sofrido.
Molly chegou onde chegou ao fugir de um casamento arranjado por sua família com um homem mais velho.  Por prezar sua liberdade e querer ser dona de sí mesma, Molly fugiu na calada da noite e acabou na porta de um bordel, como aprendiz. Os anos se passam e após a morte de sua “mentora”, Molly se torna a responsável pelo lugar. Mas os anos serviram para a garota se estabelecer na “profissão” e ganhar fama entre os homens. É claro que assim como as outras , ela usa um nome falso, o que impede de ser encontrada por familiares e amigos.

O que Molly mais preza em sua vida é a liberdade, foi por ela que perdeu tudo , família, conforto, amigos e reputação.Mas é então que ela recebe a visita de Charles O’connor em seu bordel.  
Charles é herdeiro de uma fortuna considerável e administrador das diversas fabricas têxteis do pai, alem de ser um empresario de renome, casado com uma bela mulher e pai de dois filhos.
Charles vai até Molly primeiramente após ouvir os amigos comentando sobre os dotes da prostituta. Mas após o primeiro encontro, os outros passam a ser mais seguidos, chegando até mesmo a comprar a exclusividade e leva-la em viagens de negocio.
Como já era previsível, Charles se apaixona pela prostituta, mas ela já é comprometida com sua liberdade e autonomia. O que faz com que o belo romance conturbado se torne um desastre completo.
''Porque eu jamais aceitei esse destino! Nunca fui simpática à ideia de ser uma moça nobre, cercada de servos, riquezas, limites alheios e frustrações! Nunca me afeiçoei à possibilidade de me esconder à sombra de ninguém, em especial de um homem, um marido. Sempre quis viver para mim mesma, à minha maneira.''
Então gente, o que falar desse livro... Bem, eu acho que contraditório seria a palavra certa para descreve-lo. Em resumo, Molly opta pela prostituição ao invés do casamento arranjado como uma forma de manter sua liberdade. Mas, o preço de sua liberdade e sofrer todo tipo de abuso possível, como estupro e violência, se submetendo a todos e qualquer um que pague alguns trocados. Em logica um tanto falha, ela acredita não precisar de homem para se manter, mas ao contrario de um casamento, onde ela toleraria apenas um homem, ela precisa tolerar vários e ainda viver na miséria. Contraditório, não?
É claro que Molly decide quando, quantos e onde ela vai prestar seus “serviços”. Mas, ela precisa presta-lo, ou não terá o que comer, beber ou vestir.  Não existe como fazer da prostituição um romance, é um trabalho, e principalmente na época em que a trama se passa, um trabalho mal visto, onde as mulheres que se submetem a isso sofrem todo tipo de abuso, seja sexual ou moral, já que não são aceitas na sociedade, se tornando páreas!  Mas a autora deu uma romantizada, Molly conhece Charles, o romance acontece e a paixão aparece e ela recebe a segunda chance na sua vida. O empresário propõe uma vida estável para ela, desde que ela seja sua amante e largue a prostituição. Mas ai é que o dilema acontece, Molly fica dividida, pois a prostituição é a personificação da sua “liberdade”. Liberdade entre aspas pois, é algo idealizado, mas que não existe realmente. E também tem o fato de ela ser uma mulher a frente de seu tempo, pois Molly gosta de sexo e admite isso. Ela gosta do ato sem si, e por mais bizarro que possa parecer, ela frisa que sente prazer em transar com os diversos homens que passam por sua cama. Então, a perspectiva de ser apenas de um homem, não ter sexo todos os dias e viver uma vida “entediante” em sociedade, repleta de regras de restrições parece para ela bem pior do que a vida na prostituição. A todo momento a personagem nos lembra que é prostituta em troca de sua liberdade, mas o que a trama nos passa, é simples e puramente que Molly procura o prazer físico. Sei lá, o mais estranho foi que a autora deu a entender que a única vocação de Molly é para o sexo, como se ela não fosse nada mais do que isso, como se ela não tivesse outra opção alem disso.  Enfim, Molly é um personagem complexo, mas extremamente contraditório, esses ideais enraizados que ela possui não fazem qualquer sentido, independente e principalmente na época em que a trama se passa.
 Já Charles, nosso protagonista, ele é o mais chiche possível. Homem rico, casado, bem sucedido, pai de família, mas que acaba encontrando o amor fora dessa da vida de aparência.
Como filho mais velho, ele esta incumbido de administrar a fortuna e as empresas do pai e tudo deveria ir as mil maravilhas, mas a realidade é que as empresas não estão rendendo o esperado, a irmã esta para casar e seu irmão mais novo se afunda no vicio da bebida cada dia mais. Sem contar que Charles vive um casamento infeliz, principalmente sexualmente. Sua esposa acredita que mulheres não devem gostar de sexo, e se reprime o máximo possível, achando que o marido não vai gostar se ela for “permiciosa” em excesso. Mal sabe ela que Charles  quer é exatamente isso, essa paixão avassaladora, que acaba encontrando na cama de Molly, a prostituta de maior prestigio da cidade. Mas Molly quer só prazer físico, e Charles , um romântico enrustido, quer Molly só para ele. Complicado? Pois então, neste caso os papeis são inversos, Molly é praticamente o homem da relação e o casal de protagonista desenvolve um relação doentia, que não convence em nenhum momento. Charles se diz apaixonado por Molly e vice-versa, mas não existe qualquer motivo para isso acontecer, a não ser o fato de serem bons de cama. Ao meu ver ,o “amor” deles é tesão, simples assim, nada mais do que isso.

Eu acredito que o objetivo da autora foi mostrar ao leitor que a luta da mulher por um lugar ao sol foi e ainda é cruel, que precisamos buscar essa liberdade que é dada para os homens desde sempre, que existiu e ainda existe o preconceito entre gêneros. Mas, infelizmente ela falhou gravemente na construção dos personagens,  por não “humanizá-los”,  não deixando que o leitor se aproxime emocionalmente deles, e por esse motivo  não absorva essa idéia central da historia. No meu caso, nenhum dos protagonistas me convenceu, ambos me pareceram rasos e incoerente . Eu encontrei bastante dificuldade em prosseguir com leitura, pois a trama não desenrola, o livro é repleto de cenas que não agregam em nada e a trama central se perde em divagações poéticas dos protagonistas, para ao final de mais de 300 paginas, se revelar algo ainda mais raso que os personagens. Meu diagnostico é: Falta emoção! Não dramatização, pois isso temos de monte, falta aquele sentimento profundo que faz o leitor se conectar com os personagens.

Outra incoerência do livro esta no fato de ele ser classificado como erótico. É totalmente descabido. Nem sensual ele é, e isso me frustrou bastante. Um livro sobre prostituição, classificado como erótico, já estava esperando algo intenso e até mesmo um pouco cruel, para fazer jus ao tema. Que engano. Em grande parte do livro vamos ter Molly “trabalhando”, mas falta descrições, destreza da autora para transformar a cena em algo sensual e erótico. As cenas de sexo são descritas basicamente como uma lista de afazeres, é Molly fez isso, Charles aquilo, mão na coisa e coisa na mão. Fim! Totalmente sem sal e sem açúcar, emoção zero.

Mas, um grande “MAS” aqui. A autora tem uma capacidade para descrever lugares e outras cenas, que não sejam de sexo, que impressiona. Quando ela descreve Londres, os bairros, a podridão por onde os personagens passam... gente, literalmente o leitor viaja para aquele determinado lugar e presencia aquilo de verdade, é impressionante. Eu fiquei aqui, divagando sobre como seria Catarina Muniz escrevendo ficção, algo no gênero fantasia, onde a ação é mais importante que a emoção... Nossa, seria fantástico.
A autora também tem um outro ponto a seu favor: Ela não tem medo de ser cruel. No bom estilo Verônica Roth, ela não esta nem ai se os leitores esperam aquele determinado final. O livro é dela , assim como a trama e faz o que bem entende. E funciona, esse é o melhor.  O que me levou a dar 3 estrelas(de cinco)  para este livro foi o final. Depois de uma trama um pouco descabida, ela nos deu um final que é um choque de realidade.

Enfim, eu acho que já me estendi demais nesta resenha, mas preciso frisar que não foi uma leitura de toda ruim, eu curti bastante sim e por mais que o inicio (pelo menos até a metade) seja enfadonho e cansativo, a trama pega ritmo e é fácil ler, mesmo você descordando dos fatos. A autora usa uma linguagem bem simples, apesar de se passar no século XIX, então nada é rebuscado em excesso, super tranquilo de se ler.
Sem contar é claro que o livro físico é uma perfeição!! A capa é fantástica, maravilhosa e instigante, ela praticamente induz o leitor a pegar o livro, e é também bastante coerente com a trama. A diagramação é bem simples, as divisões de capítulos são apenas enumeradas, sem detalhes. A revisão também está ótima, eu não encontrei nenhum erro. O miolo do livro é de paginas a amarelas, bem grossa e de fácil manuseio, com uma fonte agradável a leitura.

Sobre o autor:


Catarina Muniz é uma escritora brasileira de drama, romance e ficção, autora de O Segredo de Montenegro. É formada em Relações Públicas na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e aprecia a escrita desde a adolescência, mas apenas em 2012, após alguns problemas pessoais e de saúde, decidiu seguir escrever seu primeiro drama, republicado pela editora O Tordo Editorial.
Catarina Muniz é filha de uma professora e um engenheiro. Catarina e a irmã, Bianca, ficaram órfãs quando a autora tinha 14 anos, ficando sob a tutela da avó e da tia. Neste, que foi o período mais difícil que atravessara até então, as ideias de histórias e contos começaram a fermentar em sua cabeça, mas que não passavam de meras fantasias juvenis. Ela se formou em 2001 em Relações Públicas pela UFAL, e passou em um concurso público três anos depois. Em 2003 ela teve sua primeira e única filha.
Em 2012, começou a escrever contos e poemas eróticos num blog como parte do processo terapêutico de combate à Síndrome do Pânico. A partir daí, levada pela insistência de amigos próximos e parentes, a autora escreveu seu primeiro drama, O Segredo de Montenegro, em dois meses e meio, e foi originalmente autopublicado. Depois de alguns meses, Catarina recebeu a proposta de republicar seu livro pela editora carioca O Tordo Editorial, com o lançamento em 5 de junho de 2015.
No início de 2015, a autora fechou contrato com a Universo dos Livros para a publicação do seu segundo livro, um romance de época intitulado “A Dama de Papel”, a ser lançado no final de 2015. Atualmente, Catarina Muniz trabalha no seu quarto romance, sem título divulgado

3 comentários:

  1. Olá, Geeh.
    Pela profissão da protagonista, imaginei que fosse um hot intenso. Estranho não ser dessa forma, até porque faria mais sentido dentro da trama. Além disso, o personagem masculino clichê me incomodaria, sem dúvidas.
    Não sei se leria a obra.

    Desbrava(dores) de livros - Participe do top comentarista de janeiro. Serão dois vencedores!

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  2. Oi Geeh! Não conhecia esse livro, muito menos a autora. É bom saber que é um romance de época, já que é um gênero que gosto muito. Mas a premissa do livro não me agradou tanto, e você achar a leitura cansativa me desanimou mais ainda.
    Abraços!

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  3. Estou adorando o seu blog, pois mau cheguei e ja encontrei varios livros que não conhecia. Pela capa pensei que seria erótico, mas pelo jeito não é, e é uma pena que os personsgens não foram bem construidos.

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