Resenha: A Garota de Treze - Lilian Reis

30 agosto 2016

Edição: 1
Editora: Mundo Uno
Autor: Lilian Reis
ISBN: 9788567218045
Ano: 2016
Páginas: 220

Sinopse:
Oi, meu nome é Luce. Odeio ter treze anos, ser chamada de pirralha e não ser popular, mas, Acima De Tudo, odeio nunca ter sido beijada! Só tenho uma amiga de verdade, a Rafa, e um amigo apaixonado que tenta de todas as formas chamar minha atenção, o Bruno. Ele é pra lá de fofo, mas não gosto de garotos tão novos, entende? Minha vida sem graça começou a mudar quando botei os olhos no vocalista de uma nova banda. Nossa. Que gato! Eu já queria fazer aulas de violão, mas, depois que ouvi o carinha, decidi me matricular. Quase caí dura quando descobri que ele era o professor! Pelamordideus! Além de atencioso, paciente e lindo, tocava MUITO! Fiquei maluca por ele, tão maluca que decidi trapacear. Eu só não imaginava que as consequências seriam tão desastrosas!
Resenha:
“Veja o que me tortura desde os meus onze anos: me sinto adulta, inteligente e capaz; sempre antenada, curiosa ao cubo e maluca para crescer logo."
Bem, falar sobre um livro infantil é mais difícil do que falar de qualquer outro gênero. Eu sempre procuro ter dois tipos de “visão” da obra. A primeira e a mais importante, é tentar me colocar no lugar de uma pessoa com aquela idade e sentir o livro, ler como o meu eu de treze anos  e descobrir o que a obra agregaria em minha vida.
Só que eu tenho vinte e cinco anos atualmente, não tenho filhos ainda, mas é impossível para mim ler um livro deste gênero e não imaginar como eu me sentiria entregando ele nas mãos de um filho meu(ou primo, sobrinho, afilhado e etc.).
Levando em consideração esses dois pontos de vista,  no primeiro, eu com certeza acharia mega divertido as confusões  da Luce. Mas o meu eu adulto, infelizmente, viu a obra com outros olhos.

Luce é uma menina de treze anos que anceia crescer logo para poder aproveitar a vida plenamente quando completar os seus dezesseis anos. Ela odeia a idade que tem e as proibições que vem com ela.  Ela deseja ter seios, ser popular, usar maquiagem... beijar um garoto mais velho... Mas alem das proibições características da idade, a mãe de Luce é extremamente rígida e acrescenta mais algumas na infinita lista.

Quando completa treze anos ela recebe da mãe um cartão de credito para comprar o que quiser como presente e quando volta do shopping tem um violão em baixo do braço e o objeto mais sonhado por ela: um kit de maquiagem. E é com esse kit de maquiagem que todos os problemas começam. Ela começa a usar a maquiagem para parecer mais velha, usando os truques de beleza para aparentar ter dezesseis anos. É claro, tudo isso longe dos olhos de águia da mãe, que proibiu Luce de usar os cosméticos até que chegue ao tão sonhado decimo sexto aniversario.

Com os seus dois presentes de aniversario, Luce esta realizada, é tudo que ela sempre sonhou, o milagre da maquiagem mudando sua idade, e o seu violão, um instrumento que ela sempre sonhou aprender a tocar. E assim, logo sua mãe a inscreve em um curso para apresentar a tocar.

E é  assim que ela conhece Noah, um carinha lindo de dezoito anos que toca em uma banda e que agora é o seu professor particular nas aulas de violão. Só que Noah conhece a Luce maquiada, a Luce descolada que aparenta ter dezesseis, e não treze, e os dois iniciam um relacionamento inusitado. M as coisas começam a sair do controle quando ela se vê cada dia mais enrolada nas mentiras que precisa contar, tanto para sua mãe quanto para Noah, para se manter próxima de ambos.
“- Os homens nunca são inofensivos , meu amor. Você é tão inocente! Ainda é uma menina. A minha menininha. Seu pai e eu queremos o melhor para você. Por favor, obedece a mamãe.(...)(...) – Mãe, por que você não gosta do Bruno? Ele é tão bonzinho!- Só não quero que você se envolva com meninos ainda, porque, quando isso acontecer, você nunca mais sera a mesma. Eles são perigosos. Já estou careca de avisar isso pra você. (...)”
Até ai, é um livro inofensivo, divertido e carismático, próprio para o publico alvo. Mas o que me incomodou foi os detalhes que a autora inseriu, que tornaram a trama extremamente sexista.

Eu entendo completamente que a função do entretenimento é entreter, e um livro não deixa de ser isso; uma forma de entretenimento. Mas quando se escreve algo voltado para o publico infantil/adolescente, eu acredito que se deve ter um pouco mais de cuidado com os ideias implícitos, pois não é só a “lição de moral” do final que interessa. O processo de como se chega lá também importa, e foi isso que aconteceu em “A Garota de Treze”.

Luce é uma menina extremamente ingenua com uma ideia de realidade totalmente deturpada pela mãe de mente bitolada, um personagem sexista e preconceituoso, sem contar intransigente e paranoica.
Nos vivemos em um mundo em que as mulheres são oprimidas de todas as formas possíveis, pelos homens, pelo governo e até mesmo pela sociedade e mídia. Então, eu acredito fielmente que meninas devem ser instruídas desde sempre, e não reprimidas, elas não devem temer os homens e sim ter a certeza que ambos os sexos precisam se respeitar mutuamente. Mas a mãe de Luce ensina que meninos são perigosos, que ela não deve ter amigos homens, e implica com os que ela tem, pois eles só “pensam naquilo”.
E por falar em  “naquilo”, esse é outro assunto polemico aqui no livro, Luce tenta aprender na internet sobre sexo, pois sua mãe se recusa a conversar sobre isso. Mas, Luce relata diversas vezes encontrar o namorado da mãe saindo do quarto dela nas manhãs. São atitudes incoerentes que pipocam por todo o livro, como vocês podem perceber.

Existe uma passagem que me deixou horrorizada. Luce esta conversando com a amiga e contando que ouviu a mãe demitindo a empregada pois acredita que o namorado à esta traindo com ela, e a amida pergunta para Luce se a empregada não é do tipo “saliente” que  usa roupas curtas, como se a roupa da mulher justificasse o ato da traição de um homem em um relacionamento. Um tipico pensamento machista usado por uma personagem de TREZE ANOS!!
“- A Julieta é assim? – a Rafa quis  saber -Ora, assim ,como?-Sei lá, saliente, dessas que ficam se jogando pra cima dos caras, como aquelas garotas que trabalham de saias curtas e... ah, você me entende! Luce, o cara é um banqueiro ricaço...”
Enfim, como eu falei lá em cima, nesta obra existe essa ambiguidade. Minha consciência de treze anos aproveitaria a leitura e daria bastante risada. Mas, em contra ponto, existe alguns valores aqui deturpados, ideias que eu definitivamente não gostaria de apresentar para uma menina de treze anos que esta descobrindo o mundo. Meu eu mãe, irmã, prima, madrinha, ou seja, mulher, ficou horrorizada.

Mas, em contra ponto, vamos ter um romance bonitinho muito bem desenvolvido. A autora narra de forma simples e com uma linguagem bastante jovem as desventuras de Luce em busca do primeiro beijo e o sofrimento do primeiro amor. Luce é uma tipica pré adolescente que esta descobrindo a vida. Já Noah, é aquele mocinho que faz as meninas suspirarem. Ambos tem uma personalidade bem construída e desenvolvida.
E o melhor de tudo é a forma como a autora achou de fazer esse romance destinado ao fracasso dar certo(ou errado, depende do seu ponto de vista).

Em suma, “A garota de treze” é um livro fofinho e um pouquinho nostálgico. Mas, infelizmente faltou cuidado nos valores apresentados e principalmente o cuidado no desenvolvimento da figura materna.
Se eu recomendo o livro!? Sim! Mas para adolescentes que já saíram da fase da pré- adolescência. Ao meu ver, “A Garota de Treze” é mais adequado para as garotas de dezesseis em diante!
Mas isso é a minha opinião. O meu conselho é que pais e mães leiam o livro primeiro, afinal, eles podem tirar algumas boas lições sobre  “o que não fazer” com a mãe de Luce e após avaliem por sí mesmo a obra.
Sobre o livro físico, ele é lindo, uma diagramação muito bonita, repleta de bonequinhas das divisões de capítulos, uma capa bastante apropriada para o gênero, uma revisão bem feita, sem erros aparente, folhas amareladas e uma fonte agradável para leitura.
“E, já que me pediu um conselho, o melhor que posso dar é não apressar as coisas! Deixe o seu primeiro beijo acontecer na hora dele. Descobri que assim é mais gostoso e marcante."
Sobre o autor:

Mineira de Belo Horizonte, Lilian Reis é casada e mãe de dois adolescentes. Formada em Letras, sempre foi apaixonada por palavras, cinema e rock dos anos 80 e 90. É fã de momentos bobeira com a família e amigos, e maluca por livros de fantasia, sobrenatural e ficção cientifica, porem gosta de escrever sobre realidade. Adora corações partidos, amores impossíveis e finais felizes.

6 comentários:

  1. O livro visualmente pareceu ser fofinho, porém os pontos positivos que você colocou me incomodaria bastante, desta forma, tenho quase certeza que nunca vou ler o livro.

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  2. Olá, Geeh.
    Eu já não leria a obra porque não sou o público-alvo. Já passarei há alguns anos da adolescência. rs
    Os pontos negativos desanimaram-me ainda mais, afinal, não esperava que uma obra, escrita por uma mulher, tivesse um viés sexista e machista. Uma tristeza isso.

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  3. Olá.
    O livro parece bem interessante para o público jovem, No meu caso, não me chama a atenção, ainda mais que já passei dessa fase há muito tempo! Mas de qualquer forma, uma ótima indicação para o público em questão. Muito bonita sua resenha. Beijos.

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  4. Oi Geeh.
    Adorei a resenha e sua visão sobre a obra.
    Há muito tempo deixei de ler livros mais voltados pro público adolescente por buscar leituras mais maduras. Mas fiquei bem curiosa com este livro por causa da visão primitiva que a mãe da protagonista tem do mundo. Lembrou um pouco a minha mãe, quando eu tinha 13 anos.

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  5. Eu até gosto de livros mais juvenis, pois tem alguns maravilhosos, mas este não parece ser muito bom, acho que a mãe da garota deveria conversar, explicar mais as coisas ao invés e ficar só proibindo as coisas e tem mãe que é assim na vida real. Quem sabe esse livro ajuda algumas.

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  6. Talvez a autora colocou esses conceitos sexistas para dar exemplo do que não fazer, se bem qu equando isso aconteceu, tem partes do livro que fica claro a intenção do autor, o que pelo visto não aconteceu neste.
    Não tenho vontade de ler, não.
    Já amei muito livros juvenis, mas hoje não vejo mais graça em ler, só leio se for de fantaasia.
    Sou contra criança namorar kkk pra mim 16 ainda é criança, pois não tem maturidade pra nada (eu era depre nessa época kkkk), então provavelmente não curtirei essa leitura.
    Mas gostei muito da sua resenha, bem esclarecedora, parabéns!
    bjss
    Ana,
    elvisgatao.blogspot.com

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