Resenha: Apenas um Garoto - Bill Konigsberg

22 setembro 2016


Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580415896
Ano: 2016
Páginas: 256
Tradutor: Rachel Agavino


Livro cedido em parceria com a editora
Sinopse: Rafe saiu do armário aos 13 anos e nunca sofreu bullying. Mas está cansado de ser rotulado como o garoto gay, o porta-voz de uma causa.
Por isso ele decide entrar numa escola só para meninos em outro estado e manter sua orientação sexual em segredo: não com o objetivo de voltar para o armário e sim para nascer de novo, como uma folha em branco.
O plano funciona no início, e ele chega até a fazer parte do grupo dos atletas e do time de futebol. Mas as coisas se complicam quando ele percebe que está se apaixonando por um de seus novos amigos héteros.



Quando solicitei esse livro para a editora, pensei que encontraria um drama bem intenso por parte do personagem. Mas o que encontrei, vai além disso: Rafe conseguiu, em poucas páginas, me conquistar e junto com ele, me questionar continuamente.
"Como me distanciei tanto do verdadeiro Rafe, se meu único objetivo era encontrá-lo?"
Logo no começo do livro, conhecemos Rafe, um garoto gay. Rafe saiu do armário aos 13 anos e nunca teve problemas em se assumir gay. Seus pais são maravilhosos, esquisitos, mas maravilhosos e nunca questionaram sua opção sexual.
Mesmo assim, Rafe cansou de ser "o garoto gay" de sua cidade. Ele quer ser conhecido por quem é e não por sua escolha. Por isso, resolve ir estudar em uma escola só para garotos em outro estado.
De princípio, as coisas vão bem: Rafe está preparado para perguntas que podem denunciá-lo sobre sua sexualidade e sabe que para certas respostas, uma mentirinha será necessária. Logo no primeiro dia é chamado para praticar esportes com os atletas da escola e Rafe fica maravilhado! Em sua antiga escola, as coisas eram diferentes e ele, apesar de gostar de praticar esportes, era quase sempre, posto de lado. Ali não! Sua vida poderia ser melhor sim! Ele poderia ser apenas Rafe, não o garoto gay.
"Era como se aquele fosse nosso jeito. Então me perguntei se tudo funcionaria assim mesmo, meio Brokeback Mountain. Dormiríamos juntos por um ano, então finalmente iríamos além, mas nunca falaríamos sobre o assunto. Em seguida, Ben se casaria e eu seria assassinado no Texas.
Provavelmente não, mas cuidado nunca é demais."
Rafe faz amizades inusitadas. Seu colega de quarto Albie e seu amigo Toby são os melhores até conhecer Ben, um garoto inteligente e sensível como ele. Mesmo batendo na tecla de "somente somos amigos" Rafe sabe que esse sentimento está crescendo e pode se tornar algo lindo, ou, acabar em desastre.
Partindo dessa premissa, encontramos um enredo verdadeiro com sentimentos reais por parte do personagem. De princípio, fiquei me perguntando porque um garoto que tem uma ótima vida em sua cidade poderia querer começar de novo em outro lugar; ser diferente do que é. Mas depois de entrar na cabeça de Rafe, entendi seus pensamentos e atitudes. Rafe quer se livrar do rótulo de garoto gay. Ele quer ser alguém reconhecido por ser inteligente, espirituoso, bom nos esportes e acima de tudo, não quer ninguém olhando-o e questionando-se sobre ele ser um menino e gostar de meninos.
"Você vive muitos momentos divertidos quando seus pais não ficam chocados com nada. Mas isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Pelo lado bom, nunca, nem por um momento, eles se sentiram envergonhados, ultrajados ou decepcionados. Então, por que eu deveria me importar com o fato de mamãe estar mais preparada para a minha vida sexual do que? São preocupações muito menores."
Rafe é um garoto cheio de questionamentos; ele gosta de escrever e na nova escola, vai conhecer um professor que lhe ajudará a colocar no papel o que sente e como se sente. Por isso, em diversas partes do livro, encontraremos textos de Rafe falando sobre sua vida em sua antiga cidade e anotações do professor sobre o que melhorar. Gostei muito disso porque não somente incita Rafe a se abrir mais, mas também, nós leitores.
Rafe é um personagem que gostei muito de conhecer, seus amigos inusitados - Albie, Toby e Claire Olivia são os melhores. Rafe conseguiu me fazer rir durante a leitura, mas esses três me fizeram gargalhar com vontade. São amigos verdadeiros, cada um diferente em suas atitudes mas que são especiais e únicos.
Não vamos encontrar um livro cheio de preconceito, mas um livro que nos ajuda na aceitação de que não somos todos iguais. Há diferenças entre todas as pessoas... diferenças estas que julgamos ser simples, mas que podem trazer várias consequências para os envolvidos.
Bill Konigsberg nos trás um enredo gostoso, cheio de tiradas sarcásticas e pensamentos relevantes. Este é meu segundo contato com um livro do gênero e confesso que adorei as duas experiências. Mas este, por se tratar de um jovem descobrindo sua verdadeira identidade, ganhou meu coração por completo.
A narrativa é em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Rafe. Acompanhamos seus pensamentos e atitudes. a única coisa que me decepcionou durante a leitura foi o exagero em termos de esportes. Não que eu não goste, mas em alguns capítulos, fiquei confusa com os nomes das jogadas e lances. Acredito que essa parte tenha sido intencional do autor, já que o mesmo é fã de esportes. Sobre o romance por completo, eu gostei muito. Esperava algo clichê e acabei me surpreendendo.
O livro físico está impecável como é de se esperar com os livros da Editora Arqueiro. Gostei muito da capa que é condizente com o enredo.
Do mais, só posso indicar e torcer para vocês gostarem tanto quanto eu gostei!


Avaliação: 


Sobre o autor:




Bill Konigsberg sempre foi fã de esportes. Antes de escrever livros, trabalhou na ESPN e na Associated Press como editor e jornalista esportivo. Ele ganhou o Lambda Literary Award por Out of the Pocket, seu primeiro romance, e o prêmio Sid Fleischman na categoria Humor por Apenas um garoto. Ele mora no Arizona com o marido, Chuck, e seus dois cachorros, Mabel e Buford.







9 comentários:

  1. Oi, tudo bem?

    Adoro livros LGBT's e acho necessária essa representatividade, ainda que pareça que, ultimamente, as editoras estão lidando com isso como se fosse uma "modinha". Uma amiga que tem um blog voltado exclusivamente para a temática me indicou esse livro e ainda quero muito lê-lo. O último que li foi Simon e, de longe, um dos meus preferidos. A narrativa de Apenas um garoto me lembrou um pouco a primeira storyline de homofobia do personagem Kurt, de Glee.

    Ah, recomente FORTEMENTE que você NÃO use a expressão "opção sexual", pois sexualidade NÃO SE ESCOLHE. Troque por "orientação sexual" ou "identidade sexual" :)

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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    1. Oi Nina!!!
      Obrigada pelo comentário. A expressão que usei na resenha é a mesma que o personagem fala no livro. Por isso usei-a aqui também. Ele começa o livro falando assim, sobre sua "opção sexual", mas no decorrer das páginas, ele vai entendendo o que ele está fazendo e o quanto isso difere do que ele acredita.

      Espero que vc leia e goste tanto quanto eu. É um dos poucos livros do gênero que li e gostei de verdade.

      Bjo^^

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  2. Quando eu comecei a ler resenhas desse livro, das as opiniões eram super positivas, depois, com o tempo, elas começaram a divergir. As vezes alguns gostam demais e outros nem tanto assim. Fico curiosa com essa ambivalência de Rafe quanto a sexualidade dele, e esse é o único motivo do qual faz eu querer ler esse livro. Gostei muito de ler a sua opinião.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  3. Eu não sei se gosto desse livro. Principalmente quando fala a idade da criança. Porque pra mim 13 anos é uma criança. Ficou algo bem forçado, as ideias um pouco chatas, ao meu ver.
    Dificilmente leio algo homossexual, e não começaria por esse livro. Um ponto bom que vejo nele é sobre o personagem crescer sem preconceitos ao seu redor, o que é um ensinamento bom pra sociedade.
    Mas não faz meu estilo. Beijos

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  4. Ana!
    Acho bem importante livros que abordem o tema, afinal é impossível que se tenha preconceito em pleno século XXI.
    Acredito que o protagonista está mais que certo em querer descobrir seu no lugar no mundo pelo que ele é como pessoa e não por um rótulo.
    “A vida guarda a sabedoria do equilíbrio e nada acontece sem uma razão justa.” (Zíbia Gasparetto)
    cheirinhos
    Rudy

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  5. Gostei que os pais dele não se importam com sua sexualidade e o tratam com carinho, pois pra muitos pais é difícil aceitar. É difícil lidar quando as pessoas só veem um rotulo e não quem elas realmente são e sente. Esse fato de diferenças simples que marcam as pessoas é verdade, as pessoas acham que é algo inocente mas não é pode afetar a outra parte e muito.

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  6. Olá, Ana.
    Gostei bastante da premissa do livro. Essa representatividade é muito importante. Ademais, é excelente quando os livros, mesmo de forma não direta, dão aquelas cutucadas na sociedade. Isso é essencial.
    Com certeza quero conferir a obra e conhecer o protagonista.

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de setembro. Serão três vencedores, cada um ganhando dois livros.

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  7. Oi
    que bom que gostou e foi algo além do que esperava, sempre vejo falarem bem desse livro e tenho interesse, deve ser uma leitura bem envolvente, gostei da resenha.

    momentocrivelli.blogspot.com

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  8. Olá.
    Que ótimo você ter gostado da leitura. Ainda não li nada sobre esse tema, mas a premissa desse livro é bem envolvente e por tudo que você comentou, parece ser uma boa leitura. Vou querer conferir, assim que possível. Resenha muito bem elaborada. Beijos.

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