Resenha: Julieta - Anne Fortier

26 junho 2017

Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580412659
Autor: Anne Fortier
Titulo original: Juliet
Ano: 2014
Páginas: 400
Tradutor: Vera Ribeiro

Sinopse:
Julie Jacobs e sua irmã gêmea, Janice, nasceram em Siena, mas, desde que seus pais morreram, foram criadas nos Estados Unidos por sua tia-avó Rose. Quando Rose morre, deixa a casa para Janice. Para Julie restam apenas uma carta e uma revelação surpreendente - seu verdadeiro nome é Giulietta Tolomei. A carta diz que sua mãe havia descoberto um tesouro familiar muito antigo e misterioso. Intrigada, Julie parte para Siena. Mas tudo o que a mãe deixou foram papéis velhos - um caderno com diversos esboços de uma única escultura, uma antiga edição de Romeu e Julieta e o velho diário de um famoso pintor italiano, Maestro Ambrogio. O diário conta uma história trágica; há mais de 600 anos, dois jovens amantes, Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti, morreram vítimas do ódio irreconciliável entre os Tolomei e os Salimbeni. Desde então, uma terrível maldição persegue as duas famílias. E, levando-se em conta sua linhagem e seu nome de batismo, Julie provavelmente é a próxima vítima. Tentando quebrar a maldição, ela começa a explorar a cidade. À medida que se aproxima da verdade, sua vida corre cada vez mais perigo.
Resenha:
" Já amei antes ? Não, tenho certeza. Pois nunca havia eu visto tanta beleza."
“Julieta” narra a historia de vida de Julie Jacobs, uma jovem que nasceu em Sienna, mas que após a morte trágica dos pais, foi adotada junto com a irmã gêmea, Janice, por uma tia e passou a viver nos Estados Unidos.
Anos se passam e com a morte de Tia Rose,  Julie se vê desolada e desamparada, sem saber qual rumo tomar. Pois a tia deixou sua toda a sua herança e a casa que viveu quase durante toda a sua vida para Janice.

Apesar de gêmeas, as irmãs não poderiam ser mais diferentes uma da outra. Enquanto Julie é centrada, estudiosa e apaixonada por Shakespeare. Janice é a personificação da futilidade. Essa diferença entre elas fez com que desde a infância rivalizassem uma com a outra. Então, quando a herança é deixada toda para Janice e para Julie apenas uma carta, o antagonismo entre as duas se torna ainda maior.

A carta deixada para Julie diz apenas que ela deve retornar para Sienna e encontrar um tesouro escondido por sua falecida mãe. E também informa que o nome de batismo das irmãs foi trocado após a adoção, que Julie na verdade se chama  Giulietta Tolomei e sua irmã Giannozza.
Desolada, e sem outras perspectivas, Julie – agora Giulietta -  embarca em sua primeira viajem para a sua terra natal. E é exatamente ai que a sua vida vira de cabeça para baixo.

Acreditando estar prestes a colocar as mãos em uma fortuna, a garota acaba descobrindo que sua mãe deixou apenas um volume surrado de Romeu e Julieta, um caderno de anotações, com diversos esboços do mesmo desenho, um casal se abraçando, e um diário antigo de um pintor que viveu em meados de 1300.
O diário de Maestro Ambrogio narra a fatídica historia de Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti, um jovem casal de amantes que viveu e morreu de forma trágica e que tiveram a vida abreviada por conta do ódio entre as famílias Tolomei e Salimbeni.
Ela também descobre que desde então, a mais de 600 anos, ambas as famílias são amaldiçoadas, destinados a morte precoce. Levando em consideração o seu nome e o de sua irmã, e do sobrenome herdado de seu pai, Giulietta  deduz que o próximo alvo do destino deve ser ela, apesar de não acreditar inteiramente na lenda que envolve seu nome.
“- Existe luxúria, como sabeis, e existe o amor. São coisas aparentadas, mas, ainda assim, muito diferentes. Comprazer-se com uma exige pouco mais do que uma fala melíflua e uma muda de roupa; para obter o outro, porém, o homem tem que abrir mão de sua costela. Em troca, sua mulher desfará o pecado de Eva e o reconduzirá ao Paraíso.”
Eu não sou uma pessoa muita dada a clássicos da literatura. Dito isso, deixo claro que nunca li nada de Shakespeare, nem mesmo Romeu e Julieta. Apesar de já ter assistido inúmeras releituras da obra no cinema, tenho certeza de que nada se compara. Então, como a minha visão de leigo, não posso fazer comparações. Mas deixo aqui o registro de que acho Anne Fortier um gênio na escrita.

Para quem não sabe, Anne Fortier também é a autora de “Irmandade Perdida” que foi publicado a alguns anos atrás, também pela editora Arqueiro. A autora primeiro escreveu “Julieta” e após “Irmandade Perdida”. São os dois únicos livros publicados por ela, e ambos são uma obra prima. Eu já resenhei “Irmandade Perdida” aqui no blog, para quem quiser conhecer um pouco mais a escrita da autora é só dar uma conferida.
“- Porque você acabou de descobrir quem é – retrucou Alessandro sem rodeios. – E tudo finalmente começa a fazer sentido. Tudo o que você fez, tudo o que optou por não fazer… agora você entende. É o que as pessoas chamam de destino.”
“Julieta” não é apenas um romance proibido, como se pode imaginar a primeira vista. O enredo é muito mais complexo do que isso, envolve intrigas familiares, mistério e até mesmo misticismo. A autora mescla tudo isso com maestria, envolvendo o leitor de uma forma irreversível.
A trama é divida em duas partes, entre presente e passado. Ao iniciarmos a leitura conhecemos Julie – ou Giulietta, como descobrimos mais tarde – um personagem impar e de personalidade forte, que parte para a Itália não somente para conhecer suas raízes, mas também pelo desejo de encontrar o tal tesouro de sua mãe mencionado por Tia Rose.
Em seguida, vamos começar a acompanhar também a trajetória da primeira Giulietta Tolomei, que viveu em meados de 1300 em Sienna. É a partir desse ponto que vamos ver a genialidade da autora, que não somente desenvolve duas trama ao mesmo tempo, com a diferença de costumes de 600 anos, como também ela dá uma outra versão a trama do Bardo. Uma totalmente inusitada, por sinal, com muito mais conspirações e intrigas do que a original.
"Apesar de eu sempre ter me considerado meio especialista nessa peça, para mim foi uma completa surpresa descobrir que, na verdade, o Bardo não tinha inventado a história, porém meramente pegado carona em escritores mais antigos."
Original até certo ponto, devo deixar claro, para os leigos como eu. Acreditem ou não, Romeu e Julieta não foi criado por Shakespeare, que publicou a obra em 1597. Ao que tu indica, a obra foi originada em meados de 1300, ambientada em Sienna e não em Verona, como apresenta Shakespeare, e desde então, foi recontada  por diversos outros autores. Somente quase 300 anos após, quando foi readaptada pelo Bardo é que ganhou fama internacional e se tornou o ícone que é hoje.

Enfim, eu amei a leitura, apesar de ter um inicio bastante lento. Essa característica da autora de intercalar capítulos entre presente e passado contando duas historias diferente me encanta, pelo simples fato de que isso deixa o leitor completamente ávido por saber o que vai acontecer no capitulo seguinte. Sem contar que somado a escrita simples e fluida, se torna a combinação perfeita para noites em claro desesperado para saber mais sobre o que vai acontecer em seguida.

Em toda caso, em tudo são flores. Apesar de ser uma trama muito bem construída, existe uma oscilação na narrativa. Em alguns pontos tudo se torna arrastada demais e em outros a autora passa batido por situações que deveriam ser melhor trabalhadas. Isso deixa diversas questões em aberto, que infelizmente não possuem resposta.
Existe também personagens que se perdem ao longo da trama e outros que não são bem aproveitados. Como é o caso de Alessandro Santinni, o chefe de segurança que inicialmente desconfia da identidade de Julie, e que por pouco não a coloca em apuros.
A relação de Julie com a irmã também é pouco trabalhada, assim como a função de Janice na trama, que é totalmente decorativa, infelizmente.

No geral, “Julieta” é um obra que possui seus altos e baixos, mas que é muito bem elabora e fundamentada. O final é bastante impactante, apesar de extremamente corrido. Ao longo da trama reviravoltas acontecem, e surpreendentemente, o leitor não consegue prevê-las de modo algum.
Outro ponto que me agradou bastante também, é o fato de que Romeu e Julieta é um romance em seu todo, mas na releitura do presente, onde Julie é a protagonista, a autora não da tanto destaque a isso, deixando o plot do livro voltado para o mistério e não para o romance propriamente dito.

Bom, nem preciso dizer que apesar dos pesares, eu amei a leitura.Assim como “Irmandade Perdida”, “Julieta” entrou para os meus livros favoritos.
" - Você acredita em para sempre? - perguntou, detendo minhas mãos por um instante.Fitei-o nos olhos, surpresa com sua sinceridade. Levantando o anel de águia entre nós, murmurei:- Para sempre começou há muito tempo."
Sobre o autor:


Anne Fortier cresceu na Dinamarca, emigrou para os Estados Unidos em 2002 para trabalhar em cinema e é doutorada em História das Ideias pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca. A história de «Julieta» é inspirada na sua mãe, que sempre considerou Verona a sua verdadeira casa… até descobrir Siena. A sua estreia literária, «Julieta», já foi publicada em mais de 30 países

3 comentários:

  1. Geeh!
    Apesar de não ler muitos clássicos e não ter lido nada de Shakespeare, você até entende bem dos seus romances.
    Gosto de releituras e pelo vista a autora trouxe "Romeu e Julieta" mais contemporâneo e carregada de muito mistério e suspense.
    Desejo uma ótima semana!
    “Como eu não tenho o dom de ler pensamentos, eu me preocupo somente em ser amigo e não saber quem é inimigo. Pois assim, eu consigo apertar a mão de quem me odeia e ajudar a quem não faria por mim o mesmo.” (Desconhecido)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  2. Oi Geeh!
    Eu li o livro e também me apaixonei *-*
    Admito que no começo foi arrastado mesmo, mostrando aos poucos a descoberta da Julie e a disputa de anos entre Tolomei e Salimbene. Só que depois o livro foi se desenvolvendo e não consegui desgrudar. Concordo que ela deixou umas pontas soltas e deu atenção a personagens que não aparecem mais no decorrer da trama, mas eu gostei muito também.
    Não sabia que a Anne tinha publicado só esses livros. Vou atrás de Irmandade Perdida *-*
    Abc!

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  3. Também não li nada de Shakespeare, mas fiquei curiosa em ler esse livro ainda mais por ser trabalhado mais o lado do misterio, que adoro. Achei interessante saber sobre Romeu e Julieta e quem os criou pois também sou leiga nesse assunto. Fiquei curiosa com o desenrolar da personagem é esse tesouro deixado pela mãe, sem falar nesssa maldição fiquei me perguntando se ela conseguira se livrar dela.

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