Resenha: Véu do Tempo - Claire McDougall

20 junho 2017

Edição: 1

Editora: Jangada
ISBN: 9788555390661
Autor: Claire McDougall
Titulo original: Veil Of Time
Ano: 2017
Páginas: 368
Tradutor: Jacqueline Damásio Valpassos

Sinopse:
A medicação para a epilepsia mantém Maggie num estado permanente de torpor, mas não consegue aliviar sua dor por ter perdido a filha em decorrência da mesma doença. Com o fim do seu casamento e o filho mais velho num colégio interno, Maggie se muda para uma casa de campo nas ruínas de Dunadd, o local histórico que um dia foi a sede da realeza da Escócia. Tudo muda em sua vida após uma convulsão, e Maggie desperta num vilarejo dentro dos muros de Dunadd do século VIII. Mesmo sem saber se isso realidade ou apenas uma alucinação causada pela doença, ela é atraída pela presença de Fergus, irmão do rei e pai de Illa, uma menina que tem uma semelhança impressionante com a sua falecida filha. Mas, com as demandas do presente chamando-a de volta, conseguirá Maggie deixar para trás o príncipe escocês que já a chama de meu amor?
Resenha:

“Véu do Tempo” narra a trajetória de vida de Maggie, uma mulher de 38 anos que já sofreu muito na vida.
Desde muito pequena ela foi diagnosticada com epilepsia, uma doença neurológica que faz com que ela tenha convulsões fortíssimas frequentemente, e que nem os remédios conseguem inibir completamente. Maggie também sofre com a perda recente da filha de oito anos, que veio a falecer em decorrência da mesma doença.
Depois da morte de Ellie, o casamento de Maggie – que já estava se deteriorando – acaba completamente e ela resolve passar um tempo em uma casa de campo em Dunadd, um lugar histórico e que a milhares de anos atrás abrigou a realeza da Escócia e que atualmente serve de ponto turístico, que atrai pessoas de diversas partes do mundo nas visitas guiadas pelas ruínas do forte.

No silencio de Dunadd, Maggie encontra tempo para terminar sua tese, sobre a caça as bruxas e também se prepara para um acontecimento que pode mudar sua vida:  uma cirurgia, que pode cura-la para sempre da epilepsia ou destruir seu cérebro e perder todas as funções neurológicas.

Os remédios que toma para tentar inibir as crises, fazem com que Maggie passasse quase toda a sua vida em meio a uma nevoa de torpor, que inibem o melhor dela, o que aos poucos a fez se tornar uma mulher solitária. Mas em Dunadd, Maggie acaba encontrando Jim, seu único vizinho e um homem que parece conhecer bastante sobre a historia local.

Mas, quando Maggie tem a sua primeira crise de epilepsia em Dunadd e cai no sono profundo decorrente, uma coisa inusitada acontece. Sua mente viaja para uma Dunadd do século VIII, onde o forte está em plena atividade e os pictos e escoceses convivem pacificamente. É lá também que ela conhece Fergus, o irmão do atual rei. Um homem atormentado pelo passado e pai de Illa, uma menina de oito anos que se parece muito com Ellie, a falecida filha de Maggie.

Desde que se conhece por gente, Maggie tem esses sonhos vividos. Mas os atuais sonhos são diferentes, mesmo depois de acordar ela se recorda de todos os detalhes e sentimentos. E aos poucos, a realidade e os sonhos começam a se misturar. Ela também começa a preferir os sonhos do que a realidade, já que lá, pode ser quem quiser, não mais a esposa e mãe fracassada.

Mas as coisas tomam proporções diferentes quando ela começa a acordar com informações da historia local que nunca ouviu antes. Fatos históricos que marcaram Dunadd e os quais ela não tinha a mínima ideia. Sem contar, é claro, que surgem marcas e contusões pelo seu corpo, em lugares que ela machucou nos sonhos.
"Tive sonhos antes, no rescaldo das convulsões: já discuti teologia com a rainha Maria da Escócia, que não era bem o que a história retrata. Passeei ao longo das praias de Santa Helena com Napoleão, que insistia em dizer que estava sendo envenenado. Mas nada me afetou tanto quanto ver Dunadd dessa maneira, com cabras amarradas e crianças correndo de pés descalços, com grandes ondas de percussão e canto, e ao fundo de tudo isso, um murmúrio baixo que soava como um didjeridu."
Eu recebi “Véu do Tempo” junto com o kit de boas vindas da renovação de nossa parceria com a Editora Jangada.
Devo confessar que ele só me atraiu pois a sinopse me lembrou muito Outlander, um dos meus livros favoritos. E existe mesmo essa semelhança, já que ambos falam sobre viajem no tempo e se passam na Escócia medieval. Mas, é só isso mesmo.

“Véu to Tempo” é um livro transcendental. Ele mistura fantasia, mistério, ação e drama. E não podemos esquecer do contexto histórico. Vamos ver como Dunadd foi destruída,como a divergência de opiniões desmembrou um povo que poderia ter se unido e conquistado juntos.
A autora trouxe aqui um lado mais cruel da historia, sem interferência de crença ou religião, principalmente do Cristianismo,que nessa época  já começava a mostrar para que veio e a oprimir em nome de Deus. Temos a apresentação da historia das Bruxas, mulheres que conheciam a terra e seus segredos, e que eram reverenciadas pelo seu povo. Até que o fato de serem mulheres e influentes, as fez se tornar alvo da patriarcado e mortas com requintes de cruel.

E também temos Maggie, uma mulher do século XXI, que do mesmo modo que as mulheres de eras atrás, é oprimida pelos rótulos impostos pela sociedade, onde precisa ser boa esposa, boa mãe, bem sucedida, e que nada menos que isso é aceito. Maggie sofre por não corresponder as tais expectativas, e se torna cativa de sua mente, não somente pela doença, mas também pelo ciclo vicioso de expectativa e desapontamento.

Eu estou sem palavras para descrever essa obra. A trama é espetacular, e envolve o leitor, tanto no enredo desenvolvido no passado, quanto no do presente.

A autora nos apresentou uma gama bem pequena de personagens, mas todos eles são desenvolvidos de forma impecável, com cuidado e uma bagagem emocional pesada e muito bem trabalhada.
Maggie  é uma protagonista apaixonante. Ela é tão cruelmente real, que nos faz questionar a nós mesmos. A dor dela é palpável, assim como a perda e as incertezas. Ela é uma mulher que luta pela vida e para se encaixar nela, de todos os modos possíveis.
E então encontra Fergus, um homem tão sofrido e intenso quanto ela. Que é oprimido  por seus deveres, que impedem que ele seja quem realmente é.
Quando se encontram, é uma reunião de almas. Mas, daí existe aquele desespero de saber que um habita o século VIII e o outro o XXI.
É um romance arrebatador, como poucos que eu já tive a oportunidade de ler.
"Continuo insistindo para mim mesma que tudo isso é apenas um sonho, mas fica cada vez mais difícil acreditar. Com certeza eu gostaria que fosse mais do que um sonho. Eu gosto da Dunadd da Idade das Trevas. Gosto que Sula viva acima de todos e tenha ascendência sobre eles com suas ervas e pedras. Eu gosto que o irmão do rei a escute. Gosto do irmão do rei e ponto final."
Já a narrativa, que intercala presente e passado, assim como é dividida entre Fergus e Maggie. Quando Maggie conta, é em primeira pessoa. Já o ponto de vista de Fergus, segue em terceira.
Como vocês podem perceber, a autora brinca com os elementos de escrita para tornar tudo ainda mais incrivelmente fantástico.
Enfim, não estamos falando apenas de um livro de ficção. “Véu do Tempo” é um livro, antes de tudo, sobre superação e a força do amor.

Sobre o livro físico, também estou apaixonada. A capa é muito bonita, apesar de não transmitir toda a intensidade que possui o conteúdo. A revisão esta impecável e a diagramação muito bonita, com relógios de ponteiros marcando os capítulos, paginas amareladas e uma fonte agradável para leitura.
"Eu suspiro. Ele tem razão. Parece que desperdiçamos a maior parte da vida tentando não morrer. Mas, no fim, a morte acontece de um jeito ou de outro. O tempo é uma medida tão inútil para quantificar qualquer coisa... O máximo que você pode dizer é que nascemos e que morremos. O que vem no meio é uma pequena pausa. Na grande expansão do universo, a pausa nada mais é do que algumas respirações. Tentamos fazer com que isso signifique alguma coisa, acrescentando-lhe anos, mas os anos não a tornam maior. Estamos aqui, partimos. E outra coisa qualquer toma o nosso lugar."
Sobre o autor:

Claire R.McDougall, natural da Escócia, formou-se na Universidade de Oxford e mora agora em Aspen, no colorado com a família. Depois de começar cedo como colunista de jornal, sua carreira em criação literária aventurou-se pela poesia e pelos contos, ate se estabelecer nos romances sobre o seu pais de origem.

3 comentários:

  1. Geeh!
    Não li ainda a série Outlander, mas tenho a maior vontade.
    Gosto demais de livros que abordam viagem no tempo e ainda na Escócia.
    Sem contar que aqui ainda fala sobre epilepsia.
    Quero muito poder acompanhar Maggie por toda essa viagem.
    “Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.” (Clarice Lispector)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  2. Nossa! Que história mais linda e triste :(
    Histórias com viagens no tempo estão super em alta.
    Maggie e Fergus são aquele casal que você se apaixona e sofre junto!
    Adorei!

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  3. Ganhei esse livro em um sorteio, mas ainda não recebi, vou querer ler logo. A leitura deve ser comovente e mexer com o leitor. A história despertou meu interesse em saber porque a personagem tem esses sonhos, qual seu significado e gostaria de saber mais sobre essa doença.

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