Edição: 2
Editora: Biblioteca Azul
ISBN: 9788525062529
Ano: 2016
Páginas: 264
Em 1930, Getúlio Vargas chega ao poder, após um golpe contra uma república oligárquica (governada por elites) e retrógrada. Se inicia no Brasil a Era Vargas, um período que se torna completamente ditatorial em 1937, com a instituição do Estado Novo, com características autoritárias fascistas. Em 1932, Salazar chega ao poder em Portugal, com indicação de militares que estavam no governo e, em 1933, uma nova constituição é aprovada, decretando o início do Estado Novo, com características autoritárias fascistas. Em 1945 Vargas é deposto (mas é reeleito por voto popular em 1950 para mais 4 anos de poder, encerrados com seu suicídio), e em 1964 (menos de 20 anos após o fim da ditadura do Estado Novo) ocorre o golpe militar que institui uma ditadura que permanece até 1985 no poder. Em Portugal, o Estado Novo permanece no poder até 1974, 10 anos após o início da ditadura militar brasileira.
A edição, ao contrário da história, deixa a desejar. As novas edições possuem capas e cores lindas! Essa por exemplo, possui capa amarela e corte de páginas pink. Infelizmente, a tinta do corte sai, isso mesmo, o leitor corre o risco de ficar com os dedos ou a roupa manchada. A edição também não possui orelhas e a capa do meu exemplar começou a descascar dois dias depois que comecei a lê-lo. Realmente uma pena, já que o selo Biblioteca Azul é do Grupo Globo e poderia ser bem melhor.
Valter Hugo Mãe nasceu em Angola, em 1971. Vencedor do Prêmio Literário José Saramago em 2007, é autor de a máquina de fazer espanhóis (2010) e de outros três romances: o nosso reino (2004), o apocalipse dos trabalhadores (2008) e o remorso de baltazar serapião (2006). Valter é também poeta, artista plástico, DJ, vocalista da banda de rock Governo e editor – publicou em seu país autores brasileiros como Ferreira Gullar e Caetano Veloso. Em 2007 atingiu o reconhecimento público com a atribuição do Prêmio Literário José Saramago, durante a entrega do qual o próprio José Saramago considerou o romance o remorso de baltazar serapião um verdadeiro "tsunami literário".
Editora: Biblioteca Azul
ISBN: 9788525062529
Ano: 2016
Páginas: 264
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Sinopse: Depois de perder a mulher, o barbeiro António Jorge da Silva passa a viver num lar de idosos. Os quartos da ala direita dão para um jardim onde crianças brincam. Os da esquerda, reservados aos acamados, têm vista para o cemitério. Que alegrias pode a vida oferecer a alguém tão próximo de seguir esse caminho? A convivência com funcionários e pacientes do asilo, entre eles o centenário Esteves “sem metafísica”, do poema "Tabacaria", de Fernando Pessoa, revela a António uma nova possibilidade de existência. Como a flor que fura o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio, a prosa trágica e divertida de Valter Hugo Mãe busca, na humanidade dos que padecem, material para louvar a vida, mesmo em suas manifestações mais ameaçadas.
Resenha por Isaac Martins
Em 1930, Getúlio Vargas chega ao poder, após um golpe contra uma república oligárquica (governada por elites) e retrógrada. Se inicia no Brasil a Era Vargas, um período que se torna completamente ditatorial em 1937, com a instituição do Estado Novo, com características autoritárias fascistas. Em 1932, Salazar chega ao poder em Portugal, com indicação de militares que estavam no governo e, em 1933, uma nova constituição é aprovada, decretando o início do Estado Novo, com características autoritárias fascistas. Em 1945 Vargas é deposto (mas é reeleito por voto popular em 1950 para mais 4 anos de poder, encerrados com seu suicídio), e em 1964 (menos de 20 anos após o fim da ditadura do Estado Novo) ocorre o golpe militar que institui uma ditadura que permanece até 1985 no poder. Em Portugal, o Estado Novo permanece no poder até 1974, 10 anos após o início da ditadura militar brasileira.
❝[…] nunca nos preparáramos para a derrocada de todas as coisas, nunca nos preparamos para a realidade, passamos a ser cidadãos terrivelmente antipáticos, mesmo que façamos uma gestão inteligente desse desprezo que alimentamos crescendo, e só não nos tornamos perigosos porque envelhecer é tornarmo-nos vulneráveis e nada valentes, pelo que enlouquecemos um bocado e somos só como feras muito grandes sem ossos, metidas dentro de sacos de pele imprestáveis que já não servem para nos impor verticalidade nem nas mais pequenas batalhas.❞Entender esse período, marcado por autoritarismos tanto em Portugal quanto no Brasil, é mais do que uma necessidade para compreender a alma da obra “A Máquina de Fazer Espanhóis”, de Valter Hugo Mãe: é uma necessidade cidadã. É sobre cidadania e memória que se equilibra a delicada e, paradoxalmente, dura obra lusitana. Valter Hugo Mãe narra, de uma perspectiva psicológica, os dias de um senhor Silva em um asilo em Portugal, após perder sua esposa. Esse senhor Silva, com seus mais de 80 anos, leva consigo memórias e reflexos ao asilo: memórias de sua vida em um período de forte repressão e reflexos desse período em sua personalidade e seus ideais.
A estrutura de “A Máquina de Fazer Espanhóis” traduz essa linguagem dos pensamentos para a linguagem das palavras de uma maneira extremamente pura: sem pontos de exclamação ou de interrogação, sem letras maiúsculas, sem travessão ou marcações de diálogos, sem os excessos linguísticos que formalizam um texto, mas poluem um pensamento. A escrita pode parecer confusa nas primeiras páginas, entretanto em pouco tempo essa forma deixa de ser estranha para se tornar fluida e natural, como se fossem uma materialização impressa de pensamentos que adentram nossa mente.
Quanto às mensagens propostas pelo autor, vale ressaltar àquelas que se referem à ética em um ambiente autoritário, à relação entre pessoas mais jovens e idosos, às diferentes formas de se afetar por uma ditadura e aos diferentes modos de reagir diante da proximidade com a morte. De fato, a morte é, junto com o confinamento e o sentido mais abrangente de “asilo”, um dos temas centrais da obra. Como nós vamos nos portar diante da morte e confrontados com nossas memórias e ações passadas? Quais serão nossos orgulhos e arrependimentos? De que forma iremos agir diante desse fenômeno tão natural e ainda assim tão assustador? Sobre os outros temas, suas interpretações são tão diversas tão variáveis que seria praticamente um spoiler, um desrespeito à obra e ao leitor expor quaisquer interpretações antes da leitura individual. As reflexões que o livro traz são uma parte essencial da experiência de o ler, tal qual o enredo, como demonstra a forma de escrita que dá muito mais valor à dinâmica da leitura e da interpretação individual do que ao formalismo da estrutura que dá mais atenção a detalhes do ambiente ou à progressão do enredo.
❝com a morte, também o amor devia acabar, acto contínuo, o nosso coração devia esvaziar-se de qualquer sentimento que até ali nutrira pela pessoa que deixou de existir, pensamos, existe ainda, está dentro de nós, ilusão que criamos para que se torne todavia mais humilhante a perda e para que nos abata de uma vez por todas com piedade, e não é compreensível que assim aconteça, com a morte, tudo o que respeita a quem morreu devia ser erradicado, para que aos vivos o fardo não se torne desumano, esse é o limite, a desumanidade de se perder quem não se pode perder […]❞O enredo é excepcionalmente simples e completo, não são necessários artifícios como fuga do tema, surgimento de muitos ambientes ou personagens para o livro conseguir refletir de maneira bem satisfatória sobre os mais diversos assuntos, desde relações familiares até o real significado de ser cidadão. Personagens entram e saem da trama conforme passam os dias, de maneira tão natural que nem notamos essas mudanças com o desenvolvimento do enredo. Há também um uso minucioso de simbolismos que surgem para as mais diversas interpretações: desde a separação do asilo em ala esquerda e direita, até coisas tão pequenas quanto minúsculas esculturas de pombas. O próprio título do livro e dos capítulos são ferramentas que prendem o leitor à narrativa, em anseio por descobrir e compreender qual suas relações com o que ocorre na trama e em que ponto da história eles irão surgir.
Quanto às mensagens propostas pelo autor, vale ressaltar àquelas que se referem à ética em um ambiente autoritário, à relação entre pessoas mais jovens e idosos, às diferentes formas de se afetar por uma ditadura e aos diferentes modos de reagir diante da proximidade com a morte. De fato, a morte é, junto com o confinamento e o sentido mais abrangente de “asilo”, um dos temas centrais da obra. Como nós vamos nos portar diante da morte e confrontados com nossas memórias e ações passadas? Quais serão nossos orgulhos e arrependimentos? De que forma iremos agir diante desse fenômeno tão natural e ainda assim tão assustador? Sobre os outros temas, suas interpretações são tão diversas tão variáveis que seria praticamente um spoiler, um desrespeito à obra e ao leitor expor quaisquer interpretações antes da leitura individual. As reflexões que o livro traz são uma parte essencial da experiência de o ler, tal qual o enredo, como demonstra a forma de escrita que dá muito mais valor à dinâmica da leitura e da interpretação individual do que ao formalismo da estrutura que dá mais atenção a detalhes do ambiente ou à progressão do enredo.
❝um problema com o ser-se velho é o de julgarem que ainda devemos aprender coisas quando, na verdade, estamos a desaprendê-las, e faz todo o sentido que assim seja para que nos afundemos inconscientemente na iminência do desaparecimento, a inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as alegrias, mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é bem visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de frente à morte, não entremos em pânico […]❞
Diante disso, a obra é fechada em si, feita para ser degustada pela leitura, dissecada em suas possíveis interpretações, analisada em seus temas e aproveitada pela sua leveza. É uma obra universal que não só pode introduzir o leitor mais jovem numa possível leitura mais erudita, podendo ser colocada sem erros ao lado de grandes títulos da literatura portuguesa, quanto pode dar ao leitor mais experiente um novo desafio interpretativo, uma reflexão individual sobre tudo aquilo que o livro se propõe a abordar. Mesmo se tratando de um livro de Portugal, é uma leitura quase necessária para um olhar mais assertivo e abrangente sobre a sociedade, a política e as relações sociais que vigoram hoje no Brasil e em muitos outros países.
A edição, ao contrário da história, deixa a desejar. As novas edições possuem capas e cores lindas! Essa por exemplo, possui capa amarela e corte de páginas pink. Infelizmente, a tinta do corte sai, isso mesmo, o leitor corre o risco de ficar com os dedos ou a roupa manchada. A edição também não possui orelhas e a capa do meu exemplar começou a descascar dois dias depois que comecei a lê-lo. Realmente uma pena, já que o selo Biblioteca Azul é do Grupo Globo e poderia ser bem melhor.
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