Resenha: Rompendo o Silêncio - Alice Walker

19 março 2020

Edição: 1
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528615104
Ano: 2011
Páginas: 112

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Sinopse: Engajada com Martin Luther King no Movimento pelos Direito Cívicos, militante feminista, Alice Walker continua a lutar incansavelmente pelos direitos das mulheres, em particular contra as mutilações que lhes são impostas.
Trinta anos depois de denunciar a opressão racial e sexual das negras americanas, publica Rompendo o silêncio, em que descreve, de forma comovente, suas impressões colhidas durante viagens aos umbrais dos infernos: a Ruanda e ao Congo, em 2006, convidada pela organização Women for Women International, para se encontrar com sobreviventes do genocídio ocorrido nesses países; e, em 2009, por iniciativa do grupo pacifista CODEPINK, à Palestina e a Israel.
Nessas regiões assoladas por conflitos políticos, e guerras insanas, ela coletou história de gente simples, homens e mulheres que tiveram seu cotidiano tranqüilo atingido por banhos de sangue, confrontando-se, desse modo, com o indizível, o inenarrável. De volta aos Estados Unidos, Alice buscou uma forma de contar essas histórias para que outras pessoas pudessem alimentar o espírito crítico diante das “informações” veiculadas pelas mídias – ou, ainda melhor, pudessem aceder a esse conhecimento e, talvez, mudar a atitude diante do mundo aderindo a um viés pacifista e humanitário.
Mas como falar sobre o indizível? Que palavras escolher? Como engolir as lágrimas que choraríamos com nossos irmãos sofredores para que elas não afogassem a inspiração? Diante daquilo que não pode ser dito, só nos resta a poesia. E foi assim que Alice contou as trágicas histórias que recolheu: poeticamente.

Como narrar o inenarrável?
Neste livro incrível, a autora Alice Walker consegue com sua delicadeza, e destreza com as palavras narrar o sofrimento que a guerra e a ganância do ser humano é capaz de fazer com o mundo.
O livro é bem curto, com relatos breves mais muito profundo, de sofrimento, dor e superação.
Em suas viagens ao Congo e Ruanda ela ouviu relatos de mulheres que foram violentadas, mutiladas e abandonadas durante ataques (durante o genocídio de Ruanda onde os hutus mataram milhões de tutsis).
"Lá me encontrei com mulheres vitimizadas pelos matadores de Kigali, que haviam sido perseguidas através da fronteira de seu país. Essas mulheres sofreram estupro numa escala tão alta- o estupro é uma das armas de guerra mais cruéis- que parecia impossível que, em seu desespero, elas não tivessem preferido se matar."
E em sua viagem a Palestina e Israel ela pode ouvir o relato de várias pessoas que sofreram com as decisões dos poderosos, pois as principais vítimas da guerra são as famílias humildes. Ela participou da comemoração do dia da mulher na cidade de Gaza, um ato muito emocionante para aquelas mulheres que tanto sofrem com os horrores da guerra.
Acredito que essa foi uma das leituras mais tristes que já fiz, todos sabemos o que a guerra e o interesse dos poderosos podem causar, mas ao ler esses relatos na grande maioria feito por mulheres, me deparei com um horror muito maior do que imaginava..
 "Será que os seres humanos não percebem com são estúpidos, pensávamos, enquanto marchávamos, cantávamos e eramos algemadas, ao lançar foguetes em edifícios residenciais cheios de famílias, e bombardear escolas de crianças e seus animais de estimação, enquanto o gelo esta derretendo completamente no oceano Ártico e pondo fim à nossa fúria ambiciosa e retrograda?"
Um dos relatos mais fortes foi de Generose, uma mulher que passou pelo pior que um ser humano pode aguentar e mesmo assim ainda teve forca para seguir e procurar por sua filha.
Alice tem o dom de ouvir as pessoas e passar seus desabafos adiante, como forma de alerta, para que possamos acordar e perceber que somos todos iguais e precisamos nos unir por nós e pelo planeta, pois se esperarmos pelas decisões de governantes, só conseguiremos nos perder ainda mais e nos distanciar uns dos outros.
"Não importa se a crueldade está oculta; não importa se os gritos de dor e terror estão distantes. Vivemos em um único mundo. Somos um único povo."
Poderosos como a Firestone que tomaram a terra de tantas famílias no congo; países que tentam colocar pessoas umas contras as outras, financiando guerras e depois "ajudando" com a reconstrução do país e conseguindo mascarar toda sua maldade através da mídia.
Alice conseguiu mostrar tudo isso do ponto de vista humano, com sensibilidade e empatia. Que possamos aprender a cada dia com pessoas como ela que busca sempre ajudar e proteger os mais vulneráveis.








Sobre a autora:


Alice Malsenior Walker (Eatonton, Georgia, 9 de fevereiro de 1944) é uma escritora estado-unidense e feminista.
Filha de agricultores, ela perdeu a visão de um dos olhos aos 8 anos de idade, num acidente. Graças à sua dedicação, Alice Walker conseguiu sucessivas bolsas de estudos, graduando-se em artes pelo Sarah Lawrence College, em 1965. Walker iniciou sua carreira de escritora com Once, um volume de poesias, e alcançou fama mundial com A Cor Púrpura.
O romance A Cor Púrpura foi premiado com o Prémio Pulitzer, e deu origem a um dos mais belos filmes de Steven Spielberg, com a atriz Whoopi Goldberg no papel principal. Na obra, a personagem escreve cartas a Deus e à irmã desaparecida. Com sensibilidade e talento, Walker mostra representações de uma mulher negra sulista quase analfabeta, que vive em uma realidade dura de pobreza, opressão e desamor.
A autora escreveu também o livro De amor de desespero, uma obra composta pelas vozes de várias mulheres negras do sul dos EUA. O livro é uma coletânea de vários contos, nos quais conhecemos mulheres diferentes com seus temores, desafios e sonhos. No Brasil, o livro foi lançado pela editora Rocco.
Walker sempre foi uma ativista pelos direitos dos negros e das mulheres, destacando-se na luta contra o apartheid e contra a mutilação genital feminina em países africanos.
Em 1984, fundou sua própria editora, a Wild Trees Press.


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